Previsão exige cautela. À opinião perita em um mundo complexo recomenda-se tentativas de curto alcance, algo em torno de um ano. Quanto mais longe se tenta enxergar, maior a chance de sermos tão precisos quanto chipanzés atirando dardos. Com 2022 logo ali, lancemos, então, quatro hipóteses como se dardos fossem:

(i) Outsiders não terão espaço: quanto mais identificada com a atividade política, mais competitiva será a candidatura. Na prática, não-políticos e estratégias discursivas baseadas na negação da política serão menos comuns comparativamente ao que se o observou em 2018. Indícios nesse sentido já se mostraram em 2020 e devem se confirmar em 2022.
(ii) O afeto fará diferença: quanto maior a capacidade de demonstrar empatia, mais competitiva será a candidatura. As privações do contexto pandêmico, com a morte de ídolos, amigos e parentes, distanciamento, desemprego e crise financeira afetam o eleitorado em várias dimensões da vida social. Isso demandará dos candidatos habilidades associadas à capacidade de se colocar no lugar do outro e se solidarizar com a dor alheia.
(iii) O social prevalecerá: quanto mais convincente o discurso centrado em pautas sociais, mais competitiva será a candidatura. A pandemia aprofundou desigualdades econômico-sociais históricas em um quadro que já se mostrava bastante adverso. O eleitorado estará receptivo a mensagens de superação, capazes de revigorar a esperança em um futuro com mais oportunidade de emprego e renda.
(iv) Não haverá 3ª via: quanto maior a fragmentação das candidaturas classificadas como 3ª via, menor a chance de alguma se viabilizar como competitiva. O movimento de alinhamento entre pré-candidaturas que se colocam como alternativa a Lula e Bolsonaro encontra barreiras na heterogeneidade significativa entre os perfis apresentados. Soma-se a isso o avanço do calendário eleitoral, cada vez mais curto.

A elaboração dessas conjecturas levou em conta as mais recentes pesquisas XP/Ipespe, Atlas, Datafolha e PoderData, bem como as recomendações que norteiam a metáfora do chipanzé, relatada por Tetlock e Gardner no saboroso livro “Superprevisões: a arte e a ciência de antecipar o futuro”. Até 2022, essas hipóteses estarão sob o risco de se mostrarem tão precisas quanto um primata lançando dardos. Aguardemos, portanto, cautelosamente.

Juliano Domingues, doutor em Ciência Política, é professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).