Juliano Domingues

Na última semana, ele foi a estrela do noticiário político, capaz de unir contra si adversários históricos, como PT e DEM; PCdoB e PSDB. Ao mesmo tempo, tende a ser cobiçado por qualquer presidente da República. Afinal de contas, o que é o centrão?

O termo tem sido utilizado pela imprensa para se referir a um grupo de 13 partidos com assento na Câmara Federal. São eles: PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, Solidariedade, PHS, Pros, PSL, PTN, PEN e PTdoB. Ao todo, esse bloco é formado por 220 deputados – 43% da Casa. Mas o centrão também pode ser interpretado como bem mais do que isso.

As legendas se enquadram naquilo que a teoria política chama de catch-all parties(ou “pega-tudo”). Partidos assim classificados costumam ter “dono” e são carentes de ideologia e de base social definidas. Os laços de lealdade entre representantes e representados costumam ser frágeis e guiados basicamente pelo “toma lá, dá cá” pouco republicano.

Esse cenário está associado ao chamado “baixo clero”, composto, em sua maioria, por políticos de fraca atuação legislativa ávidos por benesses. Em vez de guiada por questões programática, a ação desses parlamentares – salvo raras exceções – tende ao fisiologismo insaciável, independentemente de quem seja o governante da vez.

Há um mês, os jornais noticiaram que o presidente interino Michel Temer estava “exaurido” com a “chantagem explícita” de senadores que se dizem indecisos quanto à votação do impeachment. Na última quarta-feira (13/07), a Coluna do Estadão, publicada aqui no JC, trouxe a seguinte fala em offde um parlamentar do PMDB: “todos os dias alguém do centrão põe a faca no peito do governo e recebe algo em troca”.

Esse atual centrão tem origem na eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara. Com uma agenda corporativista, o deputado acabou por atrair parlamentares que se diziam insatisfeitos com o governo Dilma. Cunha formou, então, uma tropa de choque de fidelidade canina, com imenso poder de barganha e de capacidade para obstruir os trabalhos na Casa.

O afastamento de Cunha e a derrota de Rosso (PSD-DF) fragilizaram o grupo. Partidos mais tradicionais antes aliados passaram a se declarar seus adversários. A reconciliação, porém, é questão de tempo. O centrão continua indispensável à governabilidade de qualquer presidente. Ele ilustra e sintetiza boa parte da lógica da política brasileira.

Juliano Domingues é doutor em Ciência Política e professor da Unicap.

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 17 de julho de 2016.