Juliano Domingues

 

No comitê Republicano na cidade de Akron, em Ohio, uma placa na parede profetizava: “A maioria silenciosa está com Trump”. No momento decisivo, porém, ela gritou em bom som.

 

Na segunda-feira, véspera da votação, foram divulgadas 21 pesquisas de intenção de voto (www.realclearpolitics.com). Apenas duas delas indicavam vitória de Trump. Até o famoso estatístico Nate Silver pisou na bola. Já o LA Times, que ironicamente apoiou os democratas, acertou em sua previsão.

 

A mídia em geral retratava um ambiente muito favorável a Hillary Clinton. Os “showmícios” ao lado de estrelas como Beyoncé e Katy Perry tinham a atmosfera de “já ganhou”. Além disso, os eventos se multiplicaram pelo país com Barack Obama, Bill Clinton, Joe Biden e Chelsea, a filha dos Clintons.

 

Donald Trump, por outro lado, disse em discurso que não precisava de artistas para ganhar as eleições. Os republicanos recorreram apenas a comícios de Trump, da sua esposa, Melania, e do seu vice, Mike Pence. A campanha low profile sugeria duas possibilidades: ou o candidato estava cumprindo tabela; ou dava como certa a eleição.

 

A expectativa de vitória de Hillary se tornou aquilo que a teoria da espiral do silêncio chama de “opinião dominante”. Manifestar-se contra ela costuma ter custos sociais, conflitos como intrigas na família e no Facebook. Em situações desse tipo, com medo de se sentir excluído, o eleitor tende a silenciar.

 

Investigação da Universidade do Sul da Califórnia indicou evidências nesse sentido. Em entrevistas, os pesquisadores identificaram que o eleitor de Trump se sentia desconfortável em anunciar seu voto, mesmo por telefone. Por isso, apesar de estar no mapa eleitoral, ele não aparecia no radar dos institutos.

 

O silêncio foi quebrado nas urnas por três motivos principais: 1) metade da população se diz insatisfeita com os governos Obama – Hillary seria “mais do mesmo”; 2) o eleitor aqui costuma ser fiel ao seu partido mesmo sob pressão; 3) Trump convenceu o eleitorado branco que não foi às urnas quatro anos atrás a sair de casa.

 

Donaldo J. Turmp foi eleito prometendo virar Washington de cabeça para baixo. Vale lembrar que ele também conquistou o congresso. Nesse ambiente em que essa maioria não tem mais motivos para se manter silenciosa, o futuro nunca foi tão incerto.

 

Juliano Domingues é doutor em Ciência Política e acompanhou as eleições dos EUA como observador internacional a convite do Departamento de Estado.

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 10 de novembro de 2016.