Juliano Domingues
Jornalista e Cientista Político
Professor de Comunicação & Política da Universidade Católica de Pernambuco
juliano@unicap.br

 

Nos dias que antecederam a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo 2014, sites especializados e cadernos de política dos jornais estaparam um tipo inusitado de foto. Políticos e pré-candidatos posaram sorridentes, devidamente vestidos com verde e amarelo.

Os dois principais pré-candidatos ao governo do Estado de Pernambuco – Armando Monteiro (PTB) e Paulo Câmara (PSB) –, por exemplo, fizeram isso, conforme noticiou o Blog da Folha.

Em tempos de campeonato mundial de futebol e às vésperas do início da campanha, não poderia haver melhor momento para se divulgar essas imagens. E as equipes de comunicação de pré-candidatos sabem bem disso.
Fotos desse tipo são produzidas pelas equipes de comunicação dos pré-candidatos. Basta checar os créditos com o nome do profissional responsável pelo clique.

 

Esse material faz parte do processo de construção da imagem do político diante do seu potencial eleitor, por meio de um discurso essencialmente simbólico. A intenção é humanizar o candidato, mostrar que no peito dele “também bate um coração”.

 

Portanto, há muito pouco – ou quase nada – de natural nas fotos.

 

Não que o candidato não seja humano e torcedor, não é isso. Mas, não custa lembrar ao eleitor: tudo é planejado, da roupa, passando pelo enquadramento e pelo cenário, até chegar ao sorriso.

 

O pré-candidato que pretende se aproximar do eleitor não poderia perder essa chance. Então, ponto para as equipes que não perderam tempo e registraram esse momento carregado de emoção.

 

Emoção, aliás, que não falta no futebol, também não falta na política eleitoral.

 

Futebol como “paixão nacional”?

O futebol, no Brasil, é muito mais do que uma prática esportiva. Não por acaso, a expressão “paixão nacional” a ele atribuída se tornou um lugar-comum.

 

Para além do clichê, porém, a união dessas duas palavras, por si só, nos traz alguns elementos que mercem ser analisados.

 

O primeiro deles, “paixão”, reflete o caráter emotivo da nossa percepção em relação ao que o futebol representa, uma dimensão relevante do processo de formação da nossa identidade enquanto nação.

 

O segundo elemento, “nacional”, diz respeito à penetração desse entendimento. Em todos os cantos do País, há clubes, estádios, campeonatos locais e campos de pelada.

 

Sob o ponto de vista de quem está do lado de cá do espetáculo, na torcida, futebol é, sobretudo, emoção. E em tempos de pré-campanha ou campanha eleitoral, ele pode servir como elo emocional importante entre candidato e eleitor.

 

Na ciência política, a disputa entre emoção e razão como chave analítica para se interpretar o comportamento do eleitor se assemelha, muitas vezes, a um Fla x Flu; ou um Náutico x Sport. A questão, porém, não é tão simples quanto se pode imaginar.

 

O impacto da relação entre elementos emotivos e racionais em processos de tomada de decisão ainda é um tanto complexo e obscuro. Várias explicações competem por espaço no mundo acadêmico.

 

O “time” de cientistas sociais adeptos da racionalidade liderava com ampla vantagem até dias desses. Mas os emotivos têm reagido. Gradativamente, verifica-se uma ênfase a elementos emocionais na construção de explicações e interpretações sobre o comportamento humano.

 

Pode-se dizer que, embora esse jogo esteja embolado no meio de campo, não se deve nunca desprezar o elemento emocional. Sobretudo em tempos de Copa do Mundo.

 

Emoção ou razão?

Como o eleitor decide seu voto? Levado pela emoção ou pela razão? Não há resposta absoluta para estas perguntas. São muitas as variáveis capazes de interferir no comportamento do eleitorado.

 

Porém, duas delas, em especial, estão no campo das emoções e tendem a receber atenção de pesquisadores da academia e de estrategistas de campanhas. Tratam-se de dois sentimentos: entusiamos e ansiedade.

 

A teoria da inteligência afetiva parte do pressuposto de que esses sentimentos antecedem a cognição, ou seja, o processo racional das informações por nosso cérebro.

 

Em outras palavras, primeiro vem a emoção e, depois, a razão, isto é, a reflexão sobre como nos comportarmos.

 

E o que determina a diferença entre eles? Em linhas gerais, pode-se afirmar que o sentimento de entusiasmo sugere que estamos no caminho certo em direção a um objetivo; o de ansiedade, por outro lado, nos levanta dúvidas sobre esse caminho e nos alerta para a provável necessidade de repensá-lo.

 

Esse diálogo entre emoção e razão operado na nossa mente pode ser influenciado pelas mensagens que recebemos dos diversos grupos políticos presentes na arena eleitoral.

 

Para determinado candidato, quanto maior o entusiamo em relação a ele e menor a ansiedade, maior suas chances de sair vitorioso da disputa.

 

Transformando imagens em votos?
Governantes, pré-candidatos e candidatos costumam estar atentos à construção dos seus discursos e às possibilidades de interpretação dessas mensagens por parte dos eleitores.

 

Elas podem alimentar o entusiamo ou a ansiedade de quem as recebe e, assim, provocar impacto no resultado das urnas.

 

Quem pretende se reeleger, é pré-candidato ou candidato tende a seguir essa cartilha, o que acaba por interferir no padrão de comunicação adotado por cada grupo, seja ele elaborado de forma estratégica ou intuitiva.

 

As fotos de pré-candidatos assistindo aos jogos da Copa do Mundo sugerem que eles são tão humanos quanto nós, eleitores. As imagens podem nos levar a concluir que eles também se emocionam, confiam, torcem, vestem a camisa, vibram e incentivam o time.

 

A intenção das equipes de campanha, sem dúvida, foi a de passar ao receptor da mensagem – leitor de jornais e sites de política – esses sentimentos que, no fim das contas, podem ser resumidos como sentimentos de entusiasmo.

 

Provavelmente, do ponto de vista emocional, o eleitor também deve entender assim.

 

A cada pré-candidato, não basta, porém, vibrar pela seleção brasileira. Resta torcer para que, do ponto de vista racional, o eleitor também interprete de maneira entusiasmada essas imagens.

 

E, mais do que isso, que esse entusiasmo resulte em votos.