Juliano Domingues

Pouco mais 144 milhões de brasileiros estão aptos a votar. Boa parte deles fará isso hoje. Por quê? O que pesa mais na escolha do eleitor, afinal?

Há quem escolha o candidato por uma questão de afinidade sociocultural. Quando um indivíduo se sente parte de um grupo coeso, ele tende a seguir a orientação dessa coletividade. A identidade político-social compartilhada e a sensação de pertencimento incentivam o integrante do grupo a escolher determinada alternativa.

Quando projetados em partidos ou candidatos, aspectos desse tipo possuem o potencial de render dividendos nas urnas. O comportamento eleitoral é pensado a partir de unidades de análise como classes sociais ou grupos religiosos. Dai vem a ideia, por exemplo, de que evangélico vota em evangélico ou que trabalhador não vota em patrão. É o que prevê a teoria sociológica do voto.

Por outro lado, há eleitores que levam muito mais em conta os atributos pessoais dos candidatos e os temas por eles levantados. Mais do que a dimensão sociocultural, o peso recai sobre a personalidade do eleitor. A decisão tomada seria essencialmente fruto de um alinhamento entre a visão de mundo de quem vai às urnas e a do candidato escolhido, o que explicaria porque operário pode votar em empresário. Essa é a perspectiva da teoria psicológica do voto.

Esqueça, agora, aspectos socioculturais ou psicológicos e imagine as eleições como um mercado. De um lado, os candidatos se oferecem como produtos na prateleira. De outro, os eleitores figuram como consumidores. As eleições é o dia de ir às compras. A moeda de troca é o voto e o comportamento é pragmático: a decisão do eleitor é guiada por um cálculo de custo-benefício.

Candidatos e partidos fazem promessas e, assim, competem pela preferencia do eleitorado. Tende a receber mais votos aquele que oferecer um conjunto maior de benefícios esperados pelo eleitor. Isso pode ocorrer por meio de políticas públicas ou via relações de clientelismo. Esse é o pressuposto básico da teoria da escolha racional.

Embora referência, essas teorias não são bola de cristal. Além disso, suas premissas foram formuladas nos EUA, um contexto bem menos incerto do que o nosso. Principalmente em tempos de eleição, é bom lembrar: a teoria política já definiu a democracia como um pacto das incertezas previsíveis.

Juliano Domingues é doutor em Ciência Política e professor Unicap.

Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 02 de outubro de 2016.